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A minha crise é mais crítica que a sua.

Este texto é uma reflexão que eu fiz depois de ler o post do Neto (Diretor da Bullet) no Coxa Creme. Aliás, recomedo que você leia lá primeiro.

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A crise de crédito mundial pode até chamar mais a atenção, mas logo ela passa e o mercado financeiro volta à mesma picaretagem de  sempre. A nossa é mais antiga e pode mudar a cara do nosso mercado para sempre.

A briga por tostões anda feia em todos os negócios sustentados pela publicidade.  A mutiplicidade de hábitos de consumo e de meios de comunicação tem levado à pulverização dos investimentos: investe-se mais em serviços, Mkt Direto e PDV, por exemplo, e o pouco que sobra para a publicidade ainda tem que ser dividido entre diversos meios. Acho que esse é um movimento irreversível, as pessoas vão se diferenciar cada vez mais, as ofertas para essas pessoas também. Por conta disso, o mercado vai sofrer um ajuste, com os grandes players encolhendo, muitos médios desaparecendo e os pequenos se proliferando.

De forma mais ou menos rápida, isso vai acontecer com a Internet também. O modelo de portais/broadcasts importado dos meios tradicionais não tem como se sustentar por muito tempo, na medida em que tende a existir tanta oferta fora deles – muito mais do que eles terão capacidade de cooptar. Os valores dos espaços publicitários e das próprias coorporações terão que se ajustar à realidade. Novos sites não poderão ser comprados por US$1,6bi sem antes provarem que podem dar lucro equivalente (se isso acontecer com o Twitter será mais um tiro no pé da lucratividade).

Ainda assim acho que a situação da Internet é a menos dramática por alguns motivos:
     – A caminhada dos anunciantes para a Internet é irreversível, porque a caminhada dos consumidores para a Internet é irreversivel (o que não quer dizer que a quantia investida no Terra, por exemplo, vai aumentar, mas o total dividido entre os veículos da Internet certamente vai).
     – A internet oferece possibilidades tecnológicas valiosas que nenhum outro meio oferece: formas cada vez mais precisas de se direcionar uma mensagem e de medir sua eficiência.
     – Temos menos a perder por ser um mercado estabelecido a menos tempo.
 
Por sua própria natureza, a Internet cresceu de forma desordenada. É natural também que ajutes sejam feitos até que se encontre uma forma definitiva (ou, ao menos, duradoura) de operar nela de forma lucrativa. Algumas conquistas vão ficar, outras serão ajustadas e outras abandonadas. A publicidade por link patrocinado, por exemplo, tem crescido demais. Os banners, não acredito que acabem, mas acho que passarão a ser melhor utilizados, substituindo a abundãncia atual pela possibilidade de se qualificar melhor, por login ou IP, o público a ser atingido.

Essa é uma perspectiva mundial, mas no Brasil, se você considerar que ainda tem muita classe C pra se conectar, todo um contingente de novos usuários sem saber direito para onde apontar o mouse, acho que os portais ainda tendem a nortear a Internet por mais tempo do que deveriam.
 
E pra sobreviver em meio a essa crise? Acho que além de ajustar seu tamanho à realidade, a empresa precisa encontrar uma forma de ser A melhor. Sempre vai haver mercado para os melhores, o que não vai haver são os mesmos lucros.

Burle Marx ou “A pressa passa, a merda fica”.

rio-aterroflamengo1

Aterro do Flamengo. Burle Marx plantou umas margaridas lá.

Tem rolado um movimento interessante lá na agência. A cada 15 dias, mais ou menos, recebemos a visita de um convidado para falar sobre um tema que não tenha muito a ver com o nosso dia-a-dia, ou pelo menos nada a ver com nenhum job em andamento. É uma forma de se desconectar por algumas horas e abrir a cabeça para informações que normalmente não tomaríamos conhecimento.


Já tivemos uma pesquisadora da FGV, o autor do livro sobre o profeta Gentileza, batemos um papo sobre a história da mídia com o diretor do Grupo de Mídia do Rio de Janeiro e, mais recentemente, recebemos a visita do arquiteto Ivo Mairenes, que além de desenvolver um trabalho diferenciado teve o privilégio ser parceiro de Roberto Burle Marx, um paisagista com uma vida tão rica em histórias interessantes quanto em amor pelas plantas e pela arte. E logo descobrimos que essas histórias têm muito mais a ver com nosso ofício do que se poderia imaginar.


O próprio trabalho do Ivo já valeria algumas horas de papo, e é daí que veio a primeira sacada. Segundo o arquiteto, as empresas que não adotarem postura autossustentável não vão sobreviver. Ok, analistas de mercado, ambientalistas e afins dizem isso toda hora, mas a afirmação de Ivo é fruto de sua experiência com clientes que constroem casas de mais de R$ 2 milhões. Se esse público, que dita as tendências de consumo, não compra mais madeira que não seja de reflorestamento, fica claro que as empresas precisam correr para adaptar sua postura e sua comunicação a essa nova realidade.


Mas o melhor foram mesmo as histórias sobre o genial Burle Marx e também sobre o rabugento, boêmio e acolhedor Roberto.

Roberto Burle Marx era um homem que vivia a arte em todos os momentos, valorizando a expressividade de um amanhecer ou de um sabor exótico por exemplo. Seus jardins eram influenciados por nomes como Van Gogh e Degas. Décadas antes da Internet, ele trazia da Europa livros sobre a obra desses artistas e presenteava sua equipe para que eles se comparassem com os grandes mestres, em vez de cair na tentação fácil de se comparar ao “jardim ali da esquina”. Certa vez, ao próprio Ivo Mairenes, em dúvida sobre a originalidade de um trabalho, Burle Marx disse o seguinte: ”Influências, todos temos pelo simples fato de que estamos vivos. Seu projeto pode ter sido influenciado pelo trabalho de outro, o que não pode acontecer é ficar parecido com o seu próprio trabalho. A morte de um artista acontece quando ele se torna cópia de si mesmo”.


Essas e outras histórias passaram por nós em duas horas de papo que poderiam facilmente ter se estendido por uns 10 ou 11 chopes. Fui apresentado ao Burle Marx, um mestre que deixou um patrimônio riquíssimo para a sociedade e outro maior ainda para quem conviveu com ele.


De volta à correria dos prazos, briefings, brainstorms, deadlines nossos de cada dia, procuro lembrar da analogia mais perfeita entre nosso trabalho e o de Burle Marx. Uma frase escrita em uma placa que o paisagista conservou durante muito tempo sobre sua mesa, que dizia “A pressa passa, a merda fica”.


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